sexta-feira, 7 de abril de 2017

Aliança


Nós aceitamos a diferença. E fomos. Demos as mãos e rumamos por uma trilha de terra seca por onde andar e grama verde no horizonte para deitar os olhos. Não tão romanceado quanto colocar uma mochila nas costas e percorrer o mundo. Não menos emocionante que descida de montanha russa em parque de diversão. Nossa gargalhada, na chegada, é um misto de alívio e prazer.

Damos as mãos. Palma posta contra palma, vemos no olhar frente ao nosso um outro eu. Calmamente desembaçamos a visão um do outro. Janelas, não espelhos. Somos brilho do sol e chuva que cai. Tentamos insuflar no peito alheio as alegrias e as dores que lhe faltam. Nada tão sério que não caiba no riso fácil de uma piada boba. Nada tão banal que não tenha a força do mistério.

Abrimos nossas mãos. Estendemos os braços para os lados. Livramo-nos do apenas nosso. Nosso lar, uma ciranda. Amor que não cabe em nós, deságua. Um olhar-menino traz a força da brincadeira para os nossos dias. Recém-chegado ensina-nos o peso e a leveza do tempo. Nele um tanto de nós que nos desconcerta. Nele tão pouco de nós que o torna singular.

E saímos prontos a dar as mãos e a abraçar o mundo. Com um amor que queima no peito. Como o daqueles que, tardos em entender, acabam reconhecendo a voz do mestre. Estamos prontos. Em prontidão, não preparados. Rumamos com o quem vem pelo caminho nos falando de amor. Desde a eternidade. Dentro da história, no reino que trouxe até nós. Nessa roda o atrito é força que produz o fogo, que aquece a brasa, onde se faz o peixe e se alimenta a comunhão.

Paramos. Sonhamos alto e por vezes tão pequeno. Assentamo-nos sempre num canto qualquer onde caiba mais que uma voz. Tão humanos e tão cheios da divindade. Olhamos para a família da manjedoura e  para a família eterna. A deliciosa dança. Dentro de nós, a vontade de ouvir e acolher, de comer apenas o que se pode repartir. Relacionar.

Na beleza do noivo, o amor esperado. No filho, o amor dividido. Se nada ou ninguém nossas mãos puderem tocar, tocamos juntos a dádiva de andar lado a lado e também a de cirandar. Aproximamo-nos da fragrância única do seu perfume, da diversidade estonteante das suas cores. O arco do céu pousou em nossas mãos. E ele traduziu para nós: somos um.



4 comentários:

  1. Obrigada, Marô. Que alegria que essa escrita te toque!

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  2. Aceitamos a diferença e fomos... é um caminhar bom demais, costurado em ponto cruz, e você o descreveu tão bem! Não que não haja punhos ocasionalmente mas no geral é bem assim palma contra palma.

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